sexta-feira, 21 de agosto de 2009

“Eu e minha namorada estávamos bem, tão bem que não poderia haver melhor momento para nós dois! Saiamos com todos os nossos amigos, e finalmente, depois de algumas semanas conturbadas, nos divertíamos, e de verdade. Sempre sorrindo, ela dormia lá em casa, eu dormia na casa dela. Essas férias foram as melhores que já tive ao lado dela, é uma pena que tenham acabado assim, tão rapidamente. Pelo menos pareceu que o tempo passou voando! Deve ser porque nós estávamos nos divertindo.”

Alexandre fechou seu diário e olhou-se no espelho. Ajeitou os belos cabelos negros e longos, piscou os olhos verdes e olhou novamente para o diário, abrindo-o novamente. Mordeu os lábios rosados, pegou a caneta e recomeçou a escrever.

“As aulas começaram, e eu estou me sentindo estranho, mas não sei dizer o porquê exatamente. Parece que há algo em mim que algo está errado comigo, eu não sei dizer. Meu sorriso já não é mais o mesmo, e até minha namorada perguntou o que há de errado e mim.”

Fechou o diário mais uma vez. O guardou embaixo do colchão de sua cama, como sempre fazia. Levantou-se e caminhou até a cozinha de sua casa. Abriu a geladeira, mas logo em seguida a fechou.

- Porque a gente abre a geladeira pra pensar? – Ele falou baixo para si mesmo.

Como estava sem fome, e ainda era cedo, ele tomou um banho e vestiu-se para ir estudar. Com a mochila nas costas, ele resolveu caminhar ao invés de ir de carro. Faltava bastante tempo para a aula.

Passou por vários lugares muito bonitos ao nascer do sol, mas ele não prestou atenção: caminhou de cabeça baixa até chegar onde queria: a entrada da faculdade. Um prédio antigo, bem conservado, com uma escadaria grande para entrada. A porta estava aberta, e ele subiu os degraus lentamente, ainda segurando a mochila nas costas. Entrou em um corredor extenso, com armários e várias portas à direita e esquerda. Caminho até praticamente o fim do corredor, tirou do bolso uma chave e abriu o cadeado de um armário, colocando a mochila lá dentro. Ainda tinha tempo até o começo das aulas.

Mais ao fim do corredor havia uma escada para subir até os andares seguintes. Recomeçou, então, a subir os degraus, lentamente como o fez antes de entrar, com a cabeça baixa, olhando fixamente para seus pés.

Estava tão concentrado em seus próprios pensamentos que não ouviu os cumprimentos do zelador, que limpava pacientemente o chão que unia as escadas entre o primeiro e segundo andar.

Continuou subindo, lentamente. Encontrou-se em um choque com umas garotas, amigas de sua namorada. Elas o cumprimentaram, e ele pareceu não ter ouvido nem ter dado bola para o encontrão sem querer.

- O que será que ele tem? – As garotas comentaram entre si. Estavam em três, descendo as escadas.

- Ah, sei lá! Vai ser ainda não está bem. Perder alguém da família dele e da namorada na mesma semana não deve ter sido muito fácil – Uma delas disse. – Mas, mudando de assunto! – Ela respirou fundo. – Como aquele garoto é lindo, vocês viram?

- Sim! – A terceira concordou. – Ele e o Alexandre. É uma pena terem namoradas! – As três riram.

Alexandre ouviu as risadas, mas elas logo se silenciaram, assim como o som dos passos, quando ele pisou no primeiro degrau em direção ao terceiro andar. “Será que...” ele pensava “O que será isso?”. Sem parar de subir, lentamente, as escadas. E quando terminou, abriu uma porta e saiu à parte superior da faculdade, que era descoberta e fechada com grades altas. Fechou a porta atrás de si.

Lá na frente viu, de costas, um garoto loiro com a mão agarrada na grade, acima da cabeça. De cabeça baixa, ele se aproximou igualmente lento como subiu as escadas. Virou a cabeça para ver a porta, para verificar se havia fechado. Parou a mais ou menos um metro de distância à direita do garoto loiro. Com as mãos no bolso, fixou os olhos no chão lá fora. O sol ainda estava baixo no céu, e a iluminação lá de cima era linda. Viu mais pessoas chegando até a faculdade, de carro, de motocicleta, a pé. Viu um grupo de três meninas se reunirem com mais outras.

Em silêncio, o garoto loiro virou o rosto. Quando viu quem estava lá, voltou seu rosto para frente, sem tirar a mão da grade.

- Está pensando também? – Alexandre perguntou. O garoto não respondeu, e ele sorriu levemente, fechando os olhos e erguendo a cabeça. O vento suave fazia seus cabelos dançarem. – Você, pelo jeito, não deve estar muito bem também, não é mesmo? – Novamente, o garoto não respondeu. Alexandre pode notar que a respiração do garoto havia mudado. – Fala comigo, Cris...

- O que você quer saber? – Cris interrompeu, virando-se de costas para o outro. – O que mais você quer saber?

Alexandre ficou em silêncio. Abriu os olhos e virou-se para o garoto.

- Me diz alguma coisa, Cris. Qualquer coisa. – Sem resposta, Alexandre respirou por uns instantes. – Sabe, eu estou me sentindo muito estranho, e não sei direito o que é...

- Eu te amo, Alexandre! – Cris gritou, virando-se de frente para o moreno, não mais escondendo as lágrimas. – É isso o que eu tenho pra dizer! Eu já descobri o que está acontecendo, e eu não sei como lidar com isso! Não agüento mais isso!

- Cris... – Alexandre olhou fixamente para ele, mas sem dizer nada.

- Não precisa dizer nada, só fica longe de mim! – Cris começou a caminhar para a porta rapidamente, limpando com a manga da camiseta as lágrimas de seus olhos azuis.

- Cris! – Alexandre gritou, fazendo o garoto parar a alguns metros da porta.

O loiro parou, controlou suas lágrimas e virou-se lentamente. Viu Alexandre se aproximando cada vez mais, um sorriso leve no rosto e os olhos brilhantes com lágrimas. Cris ficou impressionado com aquilo, e não conseguiu esconder, deixando os lábios finos abertos de surpresa.

O moreno se aproximou lentamente. Passou a mão leve nos cabelos loiros do outro, afastando-os dos olhos, e segurou sua cabeça pela nuca ternamente. Com a outra mão, a mão esquerda, secou as lágrimas e acariciou a bochecha levemente rosada do outro. Seus olhos verdes fixos nos olhos azuis, igualmente focados.

- Cris... Eu te amo! – E aproximou sua cabeça devagar, unindo os dois lábios em um só, igualmente suas almas, em um longo beijo.

Um comentário: